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UD Vila-Chã: onde o relvado é digno de João Félix e os armazéns servem para rachar lenha

  • Foto do escritor: DesPorto
    DesPorto
  • 18 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

Por: Roberta Vieira


UD Vila-Chã: Série A da Divisão de Honra da AF Braga


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Créditos: Ricardo Vale Photography


Recebidos ao som de pinceladas e marteladas, foi assim que o DesPorto entrou no complexo desportivo da União Desportiva de Vila-Chã para uma nova viagem pelas “Raízes da Bola”.


“Estamos a remodelar o bar, a pintar o complexo com as cores alusivas do clube e a arranjar as divisões dos balneários”, começou por introduzir Camila Gonçalves, tesoureira do clube.


Fundado, oficialmente, a 24 de junho de 1980, a UD Vila-Chã já existia antes mesmo de o ser. Nascida no seio de um grupo de amigos que pretendia defender a freguesia de Vila Chã, pertencente ao concelho de Esposende, o emblema rapidamente se tornou num clube federado que, atualmente, se prepara para regressar à Divisão Pró-Nacional da AF Braga, onde já esteve na época de 2016/17.


A decisão precoce do regresso à divisão máxima da AF Braga deu-se com o cancelamento das ligas não profissionais devido à pandemia de Covid-19. À data da paragem dos campeonatos, os axadrezados ocupavam o segundo lugar da tabela classificativa com 47 pontos, embora com um jogo a menos do que o primeiro classificado, o GFC Pousa que somava 48 pontos. Deste modo, o coeficiente de pontos/jogos entrou em ação atribuindo assim o título de campeão à equipa de Vila-Chã.


“Quando houve essa decisão viemos todos aqui para o bar, alguns jogadores e tudo mais, durante dois dias, foi tipo festa cigana”, começou por dizer Luís Carlos Garrido, jogador e presidente da UD Vila-Chã. “Foi um sentimento de querer remendar o passado, tivemos uma má experiência anteriormente e espero remendá-la com uma boa época no próximo ano”, acrescentou o dirigente, remetendo para época de 2016/17 que culminou com a descida à Divisão de Honra da AF Braga.


Responsáveis por um dos campos mais cobiçados da zona minhota, o relvado natural da UD Vila-Chã acolhe todos os anos estágios de equipas de norte a sul do país e até mesmo de emblemas internacionais. Falamos de clubes como o Estoril Praia, Moreirense, CD Nacional, Gil Vicente, Vitória SC, camadas jovens da Seleção Nacional e, mais recentemente, o Al-Nassr de Rui Vitória, entre tantos outros.


“O João Félix já treinou aqui… Temos ali uma camisola que vale 200 milhões de euros”, disse Garrido entre risos.


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Foto: Camisola assinada por jogadores das camadas jovens da Seleção Nacional masculina


Ainda assim, o clube chama a atenção para o “enorme potencial” do complexo que não é aproveitado por falta de apoios da Junta de Freguesia de Vila-Chã.


“O clube está à espera das eleições autárquicas”, vincou o camisola nove e dirigente do clube de Esposende. “Temos um complexo desportivo enorme e que podia ser aproveitado. Já que recebemos equipas como o Al-Nassr, Guimarães, Moreirense, Gil Vicente, Estoril, Rio Ave, Nacional, Varzim, seleções nacionais, e temos muita procura, só que temos de rejeitar alguns porque é relvado natural e não dá”, acrescentou.



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Foto: Camisola assinada pelo plantel do Moreirense

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Foto: Camisola assinada pela Seleção Nacional feminina

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Foto: Camisola assinada pelo Al-Nassr


“Temos um campo pelado, temos um pavilhão por acabar, temos espaço para explorar ainda mais e esperamos por umas novas eleições para que a UD Vila-Chã tenha do seu lado uma Junta que trabalhe em prol do crescimento do clube, pois ia trazer coisas boas para a freguesia e para o município”, concluiu Garrido.


De esclarecer que complexo onde joga a UD Vila-Chã pertence à Camara Municipal de Esposende que, consequentemente, passa gerência à Junta de Freguesia de Vila-Chã, sendo que a Junta cede essa mesma gerência ao clube axadrezado. Porém, o presidente alerta para o facto de as coisas, na realidade, não funcionarem assim.


“O Vila-Chã nunca teve essa gerência porque este espaço foi comprado para um espaço desportivo e não está a ser usado para isso. Está sim a ser usado em várias vertentes: desde lixeira, armazéns da Esposende Solidário, armazéns da Junta, armazéns para rachar lenha… isto tem tudo e mais alguma coisa”, reforçou o avançado da equipa de Esposende. “A única coisa bonita que tem aqui é o relvado”, concluiu entre risos.


Questionado sobre os objetivos futuros do clube, o presidente Garrido não nega o sonho de ascender a patamares superiores, mas afirma estar consciente dos obstáculos que teria pela frente.


“Se gostava de chegar aos campeonatos profissionais? Gostava. Gostava porque as pessoas que gostam do Vila Chã se calhar iriam se sentir honradas por ver o clube num campeonato profissional. Agora, a realidade é que o Vila Chã não tem suporte para ir a uma competição profissional. Quanto mais à Pró-Nacional, que é a elite da AFB, já exige muito, a nível de jogadores, orçamentos e muito mais. Agora imagina a nível profissional, teríamos de ter um bom estádio, um bom recinto, bons jogadores, escola certificada, estádio certificado e o Vila Chã não tem condições para isso”, explicou.


Tendo ingressado no clube primeiro enquanto jogador, em 2009, Garrido passara pelo processo de dispensa na época seguinte e havia jurado nunca mais jogar pelo Vila-Chã “nem que pagassem 500€”. Após duas épocas a jogar no Vila Fria 1980, da AF Viana do Castelo, o avançado regressou à UD Vila-Chã após muita insistência por parte dos dirigentes do clube na altura e, assim, começou a traçar o caminho para a presidência.


“No fim desse ano, o César, presidente na altura, abriu uma empresa e disse que não conseguia continuar na presidência. Em agosto, o Vila-Chã já devia estar em pré-época e não estava, porque não havia direção e ninguém queria pegar nisto. Muitas pessoas andavam a lixar-me a cabeça, a mim e a mais algumas pessoas, para pegar no Vila Chã. Após muito refletir, decidi e agarrei-me à presidência”, explicou o presidente-jogador de 33 anos.


Garrido não nega a dificuldade que, por vezes, pode ser conciliar o cargo de presidente com o de jogador, mas afirma que são coisas com que se vão “aprendendo a lidar ao longo do tempo”.


“Às vezes não é só o presidente que tem de saber separar as coisas… por mais que o presidente saiba separar de jogador e treinador, se um jogador, equipa técnica e restante corpo que trabalha aqui connosco não souberem separar também, as coisas ficam muito difíceis. Eu tive aqui um caso de um treinador, que era bom treinador, mas que nos zangamos por causa disso, porque, na altura o Gil Vicente treinava aqui, e nós quando íamos para treinar ele à frente dos jogadores dizia “F***-** Garrido, eles vêm para aqui treinar e lixam-te o relvado todo”, conversas e situações que deviam ser faladas à parte”, assumiu o camisola nove.


Com uma massa associativa muito fervorosa e apaixonada, Garrido afirma que são os próprios jogadores do Vila-Chã os mais visados pela crítica dos adeptos locais.


“Eu quando vim jogar para o Vila-Chã, o falecido avô da minha mulher estava atrás da baliza e dizia “oh filho da p***, não jogas nada” e eu pensava “fogo, do Vila-Chã a chamar nomes aos jogadores… eu que vim para aqui fazer?”. Uma pessoa pode falhar um passe, pode falhar um golo, mas era assim todos os jogos. Sempre que alguém errava, eles em vez de insultarem os jogadores da equipa adversária, insultavam os da casa. No início ficas chocada, mas depois gozas com isso e tudo mais”, contou o presidente num momento de boa disposição.


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Foto: Claque do Vila-Chã "União Negra"


Garrido chama a atenção para o facto de a UD Vila-Chã ter vindo a contar cada vez mais com um maior apoio das pessoas da freguesia, nomeadamente dos jovens.


“Quando dei início à minha presidência, não vinha quase ninguém e acho que nos anos anteriores não vinham muito, mas temos tido cada vez mais. Só para dar um exemplo, nós quando subimos à Pró-Nacional, no jogo com o Esposende em casa, nós tivemos cerca de mil e duzentas pessoas aqui no campo. Tínhamos a bancada cheia que são cerca de 900 lugares sentados, mais os lugares a pé”, afirmou.

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Foto: UD Vila-Chã x Esposende, 2015/16


Para finalizar, o presidente alerta para as dificuldades que o clube irá enfrentar no início da próxima época, resultante dos efeitos do novo coronavírus. Privados das festas da freguesia, torneios e alugueres do relvado que resultavam em receitas favoráveis à sobrevivência do clube, a UD Vila-Chã irá começar a próxima época sem os cerca de 10/15 mil euros habituais necessários para uma fase inicial do campeonato.


“Nós na próxima época vamos ficar privados de um orçamento de entre 10 a 15 mil euros que é muito importante na fase inicial da época, que é para pagar à AFB, treinadores, fisioterapeuta, relvados – que antes era o Gil Vicente que pagava a manutenção, mas desde que começamos com a formação, abdicamos do Gil”, explicou o avançado de 33 anos. “E a próxima é uma época que vamos começar, não é a zero, mas com o dinheiro que vai passar desta época para a próxima”, acrescentou.


Consulte o palmarés da UD Vila-Chã:


Títulos:

i. Campeão pela primeira vez em 1984/85 da terceira divisão da AF Braga;

ii. Campeão da segunda divisão da AF Braga em 1988/89;

iii. Campeão da terceira divisão da AF Braga em 1992/93;

iv. Campeão da segunda divisão da AF Braga em 1999/2000;

v. Campeão da segunda divisão da AF Braga em 2007/08;


Subidas:

i. Subida à Divisão Pró-Nacional da AF Braga em 2015/16;

ii. Subida à Divisão Pró-Nacional da AF Braga em 2019/20;

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