Palme FC: onde os ordenados são "tainadas" e até o presidente joga
- DesPorto
- 4 de mai. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de mai. de 2020
Por: Roberta Vieira
“Raízes da bola” é a nova rubrica do jornal DesPorto. Este é um espaço dedicado à partilha da história de vários clubes amadores que compõem o panorama do futebol português.

Para inaugurar a rubrica “Raízes da Bola”, o DesPorto dá a conhecer a história do Palme FC. Uma história que perdura há 25 anos e que tem sido escrita pelos filhos da terra. Com um presidente jogador, o Palme FC é também conhecido como um clube de convívio e, essencialmente, de amizade.
A 11 de novembro de 1994 nascia o Palme Futebol Clube, em Barcelos. Oriundo do antigo Grupo Desportivo de Palme, o registo deste novo clube adveio da necessidade de implementar uma prática desportiva na freguesia. Agora, 25 anos depois, compete na primeira divisão da Associação de Futebol Popular de Barcelos onde se mantém, desde a última subida, há quatro anos consecutivos.
Com uma história ainda recente no mundo do futebol, o Palme é detentor de uma Taça Cidade de Barcelos – competição disputada pelos clubes do primeiro e segundo escalão da Associação de Futebol Popular de Barcelos – frente à equipa ACD Carapeços na época 2009/10 e de uma Supertaça disputada com o GDR Leocadenses, na época seguinte. Na altura dessas conquistas, Pedro Silva era o presidente do clube, e, apesar de uma longa carreira, tendo passado também por jogador, técnico do Palme FC, e fazendo parte atualmente da direção do clube, considera, ainda hoje em dia, que esses foram os momentos mais marcantes do seu percurso.
“Para mim, o momento mais feliz que tive aqui foi na época 2009/10 com a conquista da taça Cidade de Barcelos e, na época a seguir, iniciamos a época com uma Supertaça”, contou o agora presidente da Assembleia Geral. Por outro lado, ainda recorda as duas descidas de divisão da história do clube como os momentos mais tristes que tivera experienciado.

Foto: Estante de trofeús do Palme FC
De realçar o facto de que o clube, por norma, apenas conta com jogadores oriundos da freguesia de Palme. Porém, como em tudo, existem exceções à regra e a época 2009/10 foi uma delas.
“Na altura, posso dizer que tínhamos uma boa equipa, como temos, aliás, hoje em dia, porque tínhamos jogadores de fora da freguesia”, explicou Pedro Silva.
Atualmente, o Palme detém no seu plantel apenas três jogadores que não possuem qualquer ligação à freguesia e, coincidência ou não, estava bem lançado na Taça Cidade de Barcelos com uma presença marcada nas meias finais da competição, contra o ADC Remelhe, aquando da suspensão do futebol devido ao surto de Covid-19.
João Silva, mais conhecido nos pelados como Jonny, é o presidente do clube, bem como um dos extremos do atual plantel, um caso pouco comum no mundo desportivo. Inicialmente, a ideia do jovem de 24 anos passou apenas por, eventualmente, em fim de carreira, representar o clube da sua terra, porém, a vida trocou-lhe as voltas. Assim, aos 19 anos, ingressou como jogador na equipa da freguesia de Palme e, aos 23, foi eleito presidente do emblema de Barcelos.
“Não estava à espera de tão novo vir para o Palme. Estava à espera de ter ainda uma carreira mais longa noutros clubes, mas depois a minha vida pessoal não o permitiu e, portanto, ingressei no Palme com 19 anos e não me arrependo”, revelou o jogador em entrevista ao DesPorto.
Filho de um dos fundadores e antigo presidente do clube, Jonny admite não ter sido esse o motivo pelo qual também ascendeu ao comando do clube palmense, mas sim pelo seu reconhecido espírito de liderança.
“Claro que o facto de o meu pai ter sido presidente influenciou, mas não foi uma das razões pelas quais quis ser. Pelo contrário, eu não queria nada isto, sou demasiado novo para pensar nessas coisas, mas a verdade é que, quem me conhece bem, sabe que sempre tive o espírito um bocadinho de líder e se calhar foi por isso que o antigo presidente falou comigo na altura, o André, e achava que eu era a pessoa certa para o cargo”, começou por revelar o jovem, adicionando, ainda que “no início surgiu tudo um bocadinho “vamos ver como corre”, mas agora as coisas já encaixaram”.
Nos seus primeiros tempos de mandato, ao contrário dos seus colegas de balneário, as preocupações em dias de jogo não se cingiam apenas em ir para dentro de campo fazer boa figura. Mas, com o passar do tempo, as coisas foram-se moldando para que pudesse cumprir o seu papel de presidente-jogador, considerando mesmo atualmente até ser “uma coisa boa”.
“Agora é mais fácil, mas no início foi um bocadinho complicado, mesmo para a equipa técnica e para o treinador, eu conseguir diferenciar as duas coisas. Agora, felizmente, pouco me preocupo aos domingos de manhã porque tenho o resto da direção para fazer isso e eu preocupo-me em ir para dentro do campo e dar o meu melhor”, afirmou o número 20 do Palme FC, acrescentando mesmo que “até é giro ser presidente e jogador, não há muita gente que o seja, portanto eu dou-me ao luxo de o ser, acho que é uma coisa boa”.
Será que os colegas de balneário acham o mesmo ou têm mais cuidado a dirigir-se ao senhor presidente? Jonny não deixa margens para dúvidas.
“Não, não, o pessoal conhece-me bem, sabe como é que eu sou”, começou por dizer entre risos. “Acho que não há ninguém que não fale comigo como falava por eu ser presidente. Pelo contrário, o pessoal até goza com isso, brinca com isso e eu gosto, não levo a mal. Mas quando é para ser a sério, é para ser a sério e eles sabem quando eu estou a falar a sério ou não”, concluiu.
Caracterizado como um clube da terra, que promove o convívio e a amizade, as tradicionais “tainadas” às sextas-feiras após o treino são os momentos que os jogadores mais levam da sua passagem pelo Palme. E é este convívio e união que Pedro Silva sublinha como uma das principais diferenças entre os plantéis dos primeiros anos do clube e o atual.
“Acho que neste plantel há mais união, mais convívio. Antigamente, fazia-se um convívio por mês, mas os tempos também são diferentes. As condições que nós temos agora não tínhamos em 1998 ou 2000… Por isso acho que agora há mais convívio, mais união e principalmente a amizade”, admitiu o ex-presidente.
"Isto de nos juntarmos à sexta-feira no final do treino é sempre engraçado, há sempre situações caricatas e nós às vezes não conhecemos tão bem as pessoas fora do balneário ou do campo e quando chegamos aqui estamos todos juntos e é quase como se fossemos uma família, que no fundo somos”, confirmou o camisola 20 do plantel, Jonny. “Vemos momentos de algumas pessoas que ficam para a vida, tenho alguns colegas de balneário – de balneário e não só, da direção também – que já fizeram coisas que tiveram imensa piada… quando as pessoas bebem um bocadinho a mais e fazem e dizem coisas que têm piada”, continuou entre risos. “Não vou dizer nada em particular, mas sem dúvida os jantares à sexta-feira ficam na memória sempre”, concluiu.

Foto: Plantel do Palme FC 2019/20 (créditos: Rabo do Gato)
Criado para ser um clube de popular, o Palme FC, para já, não aspira ambições superiores. O sonho não está descartado, pelo menos enquanto João Silva estiver na presidência, mas, para já, primeiro está o objetivo de voltar a ganhar a Taça Cidade de Barcelos e, um dia, o campeonato da primeira divisão.
À data da suspensão do campeonato, o Palme FC ocupava a décima posição da tabela classificativa com 28 pontos e preparava-se para disputar as meias-finais da Taça Cidade de Barcelos frente ao Remelhe, primeiro classificado do campeonato, com 59 pontos.
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