O Campeão de Kempo, Ricardo Fonseca: "Chamaram o meu nome e eu nem tinha treinado o discurso"
- DesPorto
- 21 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de jun. de 2020
Por: João Pedro Albuquerque
Para o adepto casual de desporto, o Kempo é relativamente desconhecido, mas tal não significa que não tenha fortes raízes nas artes marciais mais famosas, e não significa que tenha pouco impacto nos países mais pequenos.
Em Portugal, não é muito diferente. O relativo desconhecimento em relação à modalidade leva a que muitas vezes não seja a primeira das escolhas para quem deseja praticar artes marciais. No entanto, o DesPorto consegue provar o contrário. Existe, de facto, uma comunidade bastante dedicada a todas as práticas do Kempo e, na verdade, muito medalhada na modalidade.
A Federação Portuguesa de Kempo é relativamente jovem. Fundada em 2005, preza-se pela organização de eventos e divulgação da modalidade, sendo que em 2008 ajudou a organizar o primeiro torneio de Kempo no país. Além disso, é responsável por vários atletas e árbitros nacionais.

Foto: A federação organiza eventos para mostrar o Kempo e as suas divisões ao público em geral. Aqui, nos dias 27 e 28 de setembro de 2019, numa sessão aberta
Ricardo Fonseca é 20 vezes campeão mundial e 11 vezes campeão mundial. Natural de Paredes, mas sediado em Lousada, começou por praticar Kung Fu em 1999 com o Mestre Hélder Sousa. Até chegar ao Sport Kempo, não demorou muito, sendo que em 2008 já praticava duas modalidades distintas: “Comecei a praticar o Kung Fu tradicional e a parte desportiva do Kempo, que se chama Sport Kempo”. Em 2008 o atleta já praticava exclusivamente as duas artes marciais.

Foto: Circa. 2003 – Ricardo Fonseca com o Kimono de Kung Fu.
Por ser uma mistura de artes marciais relativamente complexa e com muitas diferenças entre estilos, o Ricardo deu-nos uma breve ideia do que é o Sport Kempo em Portugal, e de que forma o pratica:
“Eu pratico a parte desportiva do Kempo, e comecei recente a praticar a parte tradicional. É o Kempo chinês, o Lohan Tao, que é o nosso estilo. Depois existe a parte desportiva, que é a parte de competição. Existe também o Street Kempo, que é a parte da rua, ou seja, como vamos lidar com uma pessoa quando nos quer assaltar e como devemos agir. São essas as três divisões do Kempo: a parte da defesa pessoal, a parte tradicional e a parte desportiva do Kempo. Eu treino a parte desportiva há mais tempo”.
Apesar do Sport Kempo ser basicamente o combate da modalidade, o atleta dá imensa importância à parte tradicional da luta, com raízes no Kung Fu.
O lutador dá também muito relevo a um treino rigoroso e dedicado, e desde cedo percebeu que treinar bem era a chave para o sucesso na modalidade. A prova disso foi o 1º lugar no primeiro torneio em que participou, que Ricardo considera “a maior motivação que tive”.

Foto: Um dos atletas mais medalhados do Kempo, Ricardo Fonseca define que o treino e a constante procura de melhorar são a chave para as diversas medalhas que conquistou
As constantes vitórias do atleta oriundo do norte do país não ficaram ocultas à seleção portuguesa, que recentemente o incluiu nos seus quadros para participar em competições nacionais. Mas as convocatórias não funcionam como em muitos outros desportos. É preciso o atleta entender que deve ir aos treinos da seleção, e então ser convocado.
Em 2019, confrontado por um mestre sobre a possibilidade de integrar a seleção A, Ricardo Fonseca decidiu frequentar um treino de convocatória: “Eramos ao todo 80 atletas do Norte, e depois havia atletas do Centro e do Sul. Aquilo foi um treino intensivo, fizemos 4 horas de manhã, 1 hora de descanso, e mais 4 horas intensas de tarde, e no final tivemos os convocados. Vários atletas entraram para a seleção C, menos entraram para a B, e eu fui um dos poucos convocados para a seleção A. Mais tarde entrei para a seleção Elite, acima da A. Essa seleção vai aos campeonatos mais importantes do mundo”.

Foto: Apesar da entrada tardia na seleção portuguesa, Ricardo rapidamente se estabeleceu como um dos melhores atletas dos quadros, participando nos maiores torneios de Sport Kempo do mundo

Foto: A seleção A de Lohan Tao Kempo em 2019. Muitos atletas, de diferentes idades competem nacionalmente e internacionalmente todos os anos. Ricardo Fonseca é o 6º da fila de pé, a contar da direita
Devido às diferentes categorias do Kempo, Ricardo Fonseca considera-se um “atleta polivalente”, e através de várias competições, é possível ganhar várias medalhas no mesmo torneio.
Apesar das diferentes medalhas, muitas delas de ouro, o lutador diz que teve imensas competições difíceis, e que tal foi aumentando ao longo dos anos.
Em torneios de Kempo, existe diferentes formas suaves e duras. Apesar de ser focado em formas suaves, o atleta revelou-nos que pretende continuar a treinar as formas duras, com o intuito de revelar uma nova forma no próximo torneio, na Tunísia (remarcado para outubro, devido à pandemia de covid-19).
Confrontado com as dificuldades que o Kempo ainda enfrenta perante modalidades mais reconhecidas, o atleta diz que “é um projeto que está a ficar mais reconhecido, está a ficar uma Federação bastante robusta e está atualmente em projeto Olímpico. É lógico que o apoio aos atletas não é o melhor, mas a Federação faz um sacrifício enorme por nós”.
E apesar dessa ajuda, os patrocinadores locais e o atleta também ficam encarregues de financiar as estadias e as participações em torneios internacionais. Esse esforço extra é um grande motivador do sucesso dos atletas de Kempo.
O Kempo é um desporto em ascensão, procurando sempre atrair mais praticantes e mais atenção para a modalidade. A Federação Portuguesa de Lohan Tao Kempo promove este tipo de ações na maioria das vezes em que os seus atletas pisam o Tatame. Recebemos uma resposta particularmente interessante de Ricardo Fonseca, quando este foi questionado sobre como faria para atrair mais pessoas a praticar a arte marcial a que se dedica: “Se uma pessoa quer saber auto-defesa, o Kempo vai ajudar. Se uma pessoa quer competição, o Kempo vai ajudar”. Até para perder peso ou ganhar massa muscular, vamos ajudar. Se quiser até mais mobilidade, com certeza absoluta que o Kempo vai ajudar”.
A arte marcial com raízes asiáticas não só ajuda a parte física, sendo também muito importante a nível social e mental. A prática do Kempo, com a sua rigorosidade, ajuda a elevar a auto-estima do praticante. O Kempo é, então, uma arte marcial complexa e completa, ajudando na plenitude física e mental do atleta praticante.
Apesar de ser agora um atleta bastante medalhado, o campeão nacional de Sport Kempo revela-nos que à entrada para as artes marciais, beneficiou bastante da parte mental do desporto: “Eu comecei com 4 anos a praticar artes marciais. Era uma pessoa que andava sempre isolado, com medo de tudo. As artes marciais ajudaram-me a ter uma auto-estima muito grande. Hoje em dia sou uma pessoa completamente diferente, e aprendi a viver através das artes marciais”.
Como um dos melhores atletas portugueses de artes marciais, a cidade de Lousada, Porto, onde o atleta é sediado, decidiu finalmente mostrar o seu reconhecimento ao desportista em 2018, atribuindo-lhe o prémio de Personalidade do Ano na Gala de Desporto. Ricardo diz que “nem fazia ideia. Cheguei lá, chamaram o meu nome e eu nem tinha treinado o discurso. Soube-me bem saber que realmente dão valor às artes marciais. Fiquei muito feliz por valorizarem o meu trabalho”.
Por fim, fora do Tatame, Ricardo Fonseca é também conhecido por ter participado em algumas curtas-metragens com filmagens no concelho e trabalha como Personal Trainer.

Foto: Além de ser atleta medalhado, Ricardo Fonseca trabalha como modelo, ator, Personal Trainer e dá aulas de Kempo aos mais jovens
A entrevista completa pode ser vista aqui.
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