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Miguel Queiroz: "Não devemos ser privilegiados para sair mais cedo de casa"

  • Foto do escritor: DesPorto
    DesPorto
  • 21 de abr. de 2020
  • 5 min de leitura

Por: Rita Marques Oliveira


O capitão da equipa de basquetebol do FC Porto esteve à conversa com o DesPorto numa entrevista onde abordou assuntos como o início da sua carreira, a passagem pelos Estados Unidos e, ainda, a forma como o novo coronavírus está a afetar a modalidade.




DesPorto: Iniciaste o teu percurso em 2008/09 no Barreirense, depois passaste pelo Illiabum e em 2013 chegaste ao Porto. Como e quando é que o basquetebol surgiu na tua vida?


Miguel Queiroz: Foi uma ideia do meu pai. Já tinha experimentado vários desportos, e o meu pai disse “pronto vais experimentar o basket” (risos). Depois comecei a treinar, mais por brincadeira, e depois é que surgiu um gosto muito grande e continuei a jogar e a trabalhar.


DP: Então, com os outros desportos que tiveste contacto, nenhum te cativou tanto como o basket, é isso?


MQ: Sim. Quando era miúdo joguei muito tempo ténis e gostava muito, mas depois tive uma “birra” com o meu treinador... mas gostava muito de ténis e hoje em dia sempre que posso gosto de jogar.


DP: Quando é que tiveste a perceção de que podias vir a ser jogador profissional? Era um objetivo teu ou nunca tinhas planeado chegar a esse nível?


MQ: Nunca tinha planeado, até que quando tinha 14 anos, o treinador da seleção nacional de sub-15 ligou-me e disse que queria que eu fosse para a seleção. E aí comecei a perceber que podia ter algum futuro no basket. Mas até lá nunca tinha pensado nisso, simplesmente jogava por gosto e para estar com os meus colegas socialmente...


DP: Pelo desporto em si...


MQ: Pela parte social e pelo desporto em si, para praticar. Só nessa altura é que comecei a perceber que era um início, ainda era muito cedo, mas podia ser mais do que apenas um desporto e a partir daí comecei a empenhar-me mais.


DP: Em termos de formação, também passaste pelos Estados Unidos não foi?


MQ: Sim.


DP: E como é que foi a tua experiência no país de origem do basquetebol e até da NBA?


MQ: Foi muito boa. Na altura quando me fizeram a proposta, se queria fazer o 12º ano lá (onde não há clubes, jogas pelo liceu ou pelas faculdades) fui fazê-lo lá aos Estados Unidos. Foi uma experiência incrível, sem dúvida outro mundo completamente à parte daquilo a que eu estava habituado. Eles vivem muito aquilo e são muito competitivos. Isso foi o que me marcou mais, eles são muito competitivos. Qualquer coisa que eles façam, seja a jogar PlayStation, seja a jogar cartas, até a comer eles são mesmo muito competitivos e passaram-me essa competitividade. Ainda hoje estou grato por isso porque foi sem dúvida uma experiência inacreditável.


DP: Acabou por marcar o teu percurso também, não é?


MQ: Sim, sem dúvida.


DP: A equipa sénior do Futebol Clube do Porto foi extinta no final da época 2011/12, precisamente na altura em que tu entraste no FC Porto. Como foi para ti em termos motivacionais e até emocionais começar praticamente do zero num clube como o FC Porto, um dos 3 grandes, que é constantemente alvo de uma grande pressão por parte dos adeptos e até de alguns rivais?


MQ: Em primeiro lugar, eu acho que neste azar todo que o Porto teve, quando extinguiram a equipa, facilitou a minha progressão no basket e a minha vinda para o Porto, porque se eles continuassem com a equipa na Primeira Liga naquele momento não sei se estaria preparado para jogar lá. A infelicidade do Porto foi um bocadinho a minha sorte. E depois, a partir do momento em que o Moncho [Moncho López- treinador do FC Porto Basket] me ligou e disse que havia um projeto e que contava comigo, disse logo que sim. Primeiro estamos a falar dum grande clube, de uma grande instituição com condições inacreditáveis, e poder representar o FC Porto é sem dúvida um sonho. Apesar de haver muita pressão, ela tem de haver sempre e quando queres ganhar tens de estar pressionado para isso e eu gosto de viver assim. Portanto foi sem dúvida um convite em que disse logo que sim, e tenho muito orgulho em ter tomado essa decisão.



DP: Devido ao surto de Covid-19, a Federação Portuguesa de Basquetebol suspendeu as competições dia 11 de Março. Desde então, como é que tu e os teus companheiros de equipa têm mantido a forma, e como é que se adaptaram a essa situação?pa onde estavas anteriormente?


MQ: O Illiabum deixou-me muitas marcas, porque gostei muito de lá estar, das pessoas e do clube. Mas pronto, depois isso passa e nós temos de ser competitivos e a vontade de ganhar em mim estava muito presente e foi um momento muito alto, inesquecível. Mas claro que custou, se calhar preferia que fosse outra equipa, mas é assim a vida e eu trabalho todos os dias para poder ganhar. Se tiver de ser assim, ainda melhor.


DP: Devido ao surto de Covid-19, a Federação Portuguesa de Basquetebol suspendeu as competições dia 11 de Março. Desde então, como éque tu e os teus companheiros de equipa têm mantido a forma, e como é que se adaptaram a essa situação?


MQ: Nós temos treinado em casa. Temos a parte física com o nosso preparador físico no Zoom, onde treinamos em conjunto. Para além desses treinos, ele manda outros para nós fazermos individualmente. Depois também temos a parte tática e técnica, que o Moncho e o staff técnico fazem medidas para nós avaliarmos o desempenho e como é que podemos melhor esta parte. Não são as melhores condições, mas são neste momento o que temos e sem dúvida se a competição voltar vamos estar preparados para ganhar.


DP: Continuam a prepararem-se e a manter o foco nas competições...


MQ: Sim, sem dúvida. Até termos uma decisão em contrário acreditamos sempre que vamos voltar.


DP: Então ainda não receberam nenhuma orientação relativamente ao retorno dos campeonatos?


MQ: Não. A competição está suspensa indefinidamente, não sabemos datas ou se vai voltar, mas estamos a trabalhar para voltar, mas isso já não é uma decisão nossa.


DP: Relativamente à Final Four também não tens qualquer tipo de orientação?


MQ: Isso já acho mais complicado que se realize, porque voltando teria de ser uma competição curta e a Final Four da Taça não deve ser jogada.


DP: Tu também representas Portugal, ao nível da seleção, e foste convocado para o Eurobasket que deverá ocorrer em 2021. Também tens tido algum acompanhamento no sentido de preparação? Ainda que há distância, é claro.


MQ: Já falei com o selecionador nacional, mas a parte física e o preparamento é única e exclusivamente do FC Porto. É o meu clube e é por quem nós estamos a ser representados. Neste verão não haveria competições internacionais, portanto apesar de ter falado com as pessoas, não passou disso.


DP: Nós sabemos que as competições ainda não têm data para regressar, mas gostariamos de ouvir a tua opinião pessoal. Achas que deviam ou não regressar?


MQ: É uma boa pergunta. Começo a ver nas notícias que o Nacional da Madeira [futebol] já treina e vai haver autorização especial para as equipas de futebol começarem a treinar. Para mim é absurdo, porque ao final do dia somos todos pessoas normais, simplesmente em vez de ir trabalhar para uma biblioteca, por exemplo, vamos treinar para um pavilhão. Simplesmente não deveríamos ser privilegiados (ou desprivilegiados) para poder sair de casa antes dos outros. Concordo sim, se acharem que existe condições para todos saírem de casa e voltar aos trabalhos. Se nós tivermos uma autorização especial para treinar, não concordo.


DP: Muito bem. Em Portugal sabemos que o desporto mais bem financiado é o futebol. Consideras que o basket no nosso país merecia ter outro tipo de apoios?


MQ: Claro que sim. Gostava sempre de mais e melhor para a minha modalidade. Mas não podemos olhar por aí, temos de nos sentir privilegiados por fazer aquilo que gostamos e sermos pagos por isso. Se queremos que o basket tenha mais condições, temos de lutar por isso, para que as pessoas venham ao pavilhão. Mas claro, gostaria que a modalidade tivesse mais visibilidade, se não o dissesse, estaria a mentir.


DP: Claro! Eram estas as questões que te queríamos colocar. Damos por terminada esta entrevista e queriamos agradecer a tua disponibilidade e por teres aceitado falar connosco. Obrigada!


MQ: Obrigado a vocês por se lembrarem de mim.

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