Lay-off só pela metade
- DesPorto
- 13 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Por: João Pedro Albuquerque
No passado dia 8 de Abril, o Expresso lançou a notícia de que todos os trabalhadores da redação portuense do jornal desportivo A Bola tinham sido enviados para casa, devido ao regime de lay-off que a instituição tinha adotado no intuito de combater os prejuízos capitais e económicos provocados pelo recente coronavírus.
A palavra “lay-off" não é estranha aos portugueses. Algumas das últimas novidades do desporto rei em Portugal são que muitos clubes pretendem entrar neste regime, podendo assim obter ajuda no que toca a pagar os rendimentos aos jogadores, equipa técnica e restantes trabalhadores da organização.
Para percebermos até onde isto vai, primeiro necessitamos de entender o que significa exatamente o lay-off. Segundo o que consta na página oficial da Segurança Social portuguesa, “O Layoff consiste na redução temporária dos períodos normais de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho efetuada por iniciativa das empresas, durante um determinado tempo”. Assim sendo, nenhum empregador/empresa pode cancelar o contrato do trabalhador, e este fica a receber no mínimo um terço do seu salário, sendo que não precisa de abdicar da ajuda da segurança social e de todas as regalias e subsídios que a instituição oferece. Apesar de tudo isso, a empresa tem de provar que não consegue subsistir sem esta ajuda durante o período que podemos estar limitados pelo Covid-19.
Até aqui tudo bem, certo? Bem, mais ou menos.
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) mostrou o seu profundo descontentamento com esta decisão, não só por prejudicar o estatuto de trabalhador de todos os jornalistas da redação do Porto, mas por essa mesma ter encerrado totalmente, enquanto a redação de Lisboa continua a exercer as mesmas funções de sempre. Luís Filipe Simões, membro da direção do SJ e jornalista d’A Bola, refere mesmo esta atitude como uma “discriminação”.
Como portuense e principalmente como estudante de Jornalismo, tenho de concordar com esta visão da decisão. Encerrar totalmente a redação do Porto prejudica 23 trabalhadores, ou seja, 23 fontes de rendimento das 76 afetadas pelo país todo ligadas à Sociedade Vicra Desportiva (detentora do jornal A Bola, e mais algumas subsidiárias). Isto parece-me uma prova concreta da mentalidade centralista em Lisboa que se tem visto ao longo dos anos. Mas porquê apenas esta redação, se a pandemia se estende a nível nacional, assim como o Estado de Emergência proclamado pelo governo português?
Podemos tentar justificar a decisão com a quantidade de casos positivos de coronavírus no Norte do país, que é a área mais afetada em Portugal pela pandemia. No entanto, como já expliquei, o Covid-19 estende-se a nível nacional, e se o objetivo é proteger os jornalistas e trabalhadores ligados ao jornal A Bola, justificava-se o encerramento total das instalações, optando por um método de teletrabalho em casa.
Tal não aconteceu e podemos tentar justificar a decisão com a questão da redação da Invicta ser a segunda maior, a seguir à de Lisboa. Mas apesar de ser verdade, a contribuição da redação portuense é indiscutivelmente igual ou até superior para completar o jornal em papel, por exemplo. Isto é, as fontes de informação e bases de dados a norte do país são mais do que aquelas a sul do mesmo, e é possível perceber isso novamente através do futebol, o desporto de longe mais procurado e necessita pelo leitor português.
Os clubes da Liga NOS, primeira divisão do futebol sénior português, são mais a norte de Coimbra (11 clubes) do que a sul (5) e ilhas (2). A segunda divisão, a Ledman LigaPro, também tem mais clubes a norte da cidade universitária (10 clubes) do que no resto do país. Além disso, a Associação de Futebol do Porto é a segunda maior do país, a par de Lisboa, mas contribui com a maioria das subidas de escalão para o Campeonato de Portugal nos últimos anos.
Tirando estas justificações plausíveis do caminho da decisão, é possível perceber as questões políticas que é o lay-off da redação da cidade do Porto deste jornal desportivo, que mostra mais uma vez o centralismo que existe na mentalidade de muitos portugueses, e na preocupação económica que gera em torno da cidade de Lisboa. No entanto, é de louvar a decisão, se predominar a saúde dos seus trabalhadores do norte de Portugal, assim como dos seus leitores na mesma região.
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