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A principal infeção do português

  • Foto do escritor: DesPorto
    DesPorto
  • 14 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Por: João Pedro Albuquerque

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Foto: Twitter @slbenfica | Vlachodimos, Rúben Dias e Jota no regresso aos treinos do SL Benfica


Já está decidido: o campeonato nacional de futebol e a Taça de Portugal estão autorizadas a voltar no dia 4 de junho. Bem, pelo menos para a Primeira Liga.


Bastou uma única reunião com os presidentes dos clubes do principal escalão de futebol na FPF para se poder decretar que era seguro haver jogos de futebol à porta fechada, começando assim as entidades responsáveis a tomar as devidas precauções. Sem adeptos, com estádios selecionados e com testes regulares ao Covid-19, os treinos e jogos do principal escalão de futebol português parecem ir de vento em popa.


Podemos comparar o caso português à questão alemã da Bundesliga, com jogos já marcados e com principal destaque para o “Revierderby”, nome dado ao jogo entre os eternos rivais do Schalke 04 e do Borussia Dortmund. Ao contrário da Eredivisie (Holanda) e da Ligue 1 (França), o nosso país parece confiante num retorno das lutas acesas pelos lugares a disputar, sejam eles os lugares europeus, ou de descida de divisão.

Mas será apenas uma questão de confiança nas medidas de segurança?


Qualquer adepto de futebol sentia saudades disto. Já não aguentava estar sentado em casa a ver antigos derbies, jogos europeus de há 5 anos e vitórias de campeonatos em mil novecentos e troca o passo. Verdade seja dita, o futebol em direto e a cores faz falta aos fãs de todos os clubes. Palavras-chave: De todos os clubes.


Então porque é que os campeonatos de escalões inferiores não voltaram? Será que os estádios e organização não reúnem as condições de segurança? Ou será que os interesses económicos gastos nessas divisões não justificam um regresso imediato ao jogo?


A liga (e o governo) justifica com a primeira hipótese. Eu estou disposto a apostar e a reforçar a última. Não é preciso aprofundar muito o conhecimento das finanças dos clubes e da FPF para perceber que a Primeira Liga não demoraria a precisar de voltar. Basta ligar a televisão ou abrir o jornal desportivo de escolha. Desde contratos com patrocinadores, a direitos televisivos e a obrigações contratuais com jogadores, era importantíssimo um regresso antecipado do futebol nacional. E as diferenças entre a primeira divisão e a segunda são avultadas, como serão então as diferenças entre estas duas, e as divisões distritais das respetivas associações? Parece que os adeptos dos pequenos clubes vão ter de esperar um pouco mais para ver os respetivos dentro de campo. E nem vale a pena os clubes dessas divisões mostrarem o seu desagrado, sobe quem tiver para subir e desce quem tiver para descer. Só que calma aí, embora vocês desçam já, os vossos colegas terão a hipótese de lutar para que tal não aconteça no escalão principal. É o mesmo que uma empresa em falência despedir um setor inteiro em plenas férias, enquanto outro setor terá a hipótese de conquistar o seu lugar ao trabalhar no próximo trimestre. Em suma, não é simplesmente justo em termos desportivos.


Mas vamos ao que realmente interessa, os que fazem realmente a empresa funcionar. Ou seja, os jogadores.


Muitos adeptos acreditam ter o jogador sobre-humano na sua equipa. O desequilibrador, o verdadeiro terror das defesas. O monstro. O mito. A lenda que, cada vez que pisa o relvado e toca na bola, leva as bancadas ao rubro e provoca suores frios no treinador da equipa rival (mas, bancadas cheias? É melhor não falar delas neste momento). Na “vida real” não é bem assim.


O primeiro regresso aos treinos foi marcado pelos respetivos testes aos jogadores, à procura do famoso vírus que neste momento parou o planeta. Muitos deles deram, surpreendentemente, positivo e terão de ficar em quarentena obrigatória, apesar de não apresentarem na sua maioria os sintomas que caraterizam o coronavírus. Cinco clubes foram, até à escrita deste artigo, afetados pelos acontecimentos e isso implica que os jogadores infetados sejam retirados de prova como “lesionados”. Mas o risco de infeção é forte, e por isso as medidas de quarentena para todos os envolvidos no regresso da competição continuarão. Mesmo assim, é importante salientar que toda a responsabilidade vai ser dos clubes, caso haja contágio entre os membros deles.


Sinceramente, tudo isto parece irresponsável e feito em cima do joelho, apenas em prol do setor financeiro da Federação não ser tão afetado. De não se perder patrocínios, apostas e de ousar não haver qualquer entrada monetária à pala do desporto rei. No entanto, é de louvar ter sido feita uma reunião de emergência desde que muitos jogadores se mostraram descontentes com as decisões da DGS e da FPF face ao retorno das competições. “Just Business” à parte, é importante que os presidentes dos clubes e a Comitiva da Federação percebam que são os jogadores os principais responsáveis do futebol voltar. São também os primeiros, juntamente com as respetivas equipas técnicas e árbitros, a pôr a saúde em risco para que volte o desporto que tanto nos alegra e que tanto dinheiro lhes enchem os bolsos. Mas mesmo assim, preciso de reforçar que os meios de comunicação comuns dão sempre enfâse aos jogadores dos 3 grandes de Portugal, e aqui não foi diferente.

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Foto: Retirada do site Maisfutebol | Fábio Silva e Luis Díaz no regresso aos treinos do FC Porto


Foram Danilo Pereira, Zé Luís e Tiquinho Soares, do FC Porto, e Francisco Geraldes, do Sporting, a terem o seu nome a encabeçar a lista de jogadores que está descontente com o retorno do campeonato e principalmente com estas medidas “forçadas”. Apesar de estar orgulhoso da postura destes, temo que tal reunião de emergência tenha sido feito pelos mesmos terem dado a cara. Tal como penso que o campeonato e a taça estão para voltar devido aos 3 grandes (sendo que dois deles se defrontam na final da velha competição a eliminar) terem feito a devida pressão.


Como adepto, sinto numa mistura de receio e felicidade ao saber que o futebol português pode ter a possibilidade de voltar mais cedo do que o esperado, ou melhor, de todo. No entanto, venho aqui exprimir a minha vontade de que todos os responsáveis sejam cautelosos e que tenham consciência de que 22 jogadores e um árbitro em contacto próximo uns com os outros não é mais seguro do que 50 mil adeptos a ver um jogo de futebol no Estádio do Dragão.

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